USOS E COSTUMES

Honra e Desonra no Mundo Bíblico — Mateus 12

O antigo mundo mediterrâneo (e até mesmo muitas culturas hoje) era obcecado por honra e desonra. A honra era um valor fundamental no mundo bíblico. As Escrituras estão cheias de histórias de indivíduos que buscam honra e tentam evitar a desonra. Mas, para complicar a busca da honra, os antigos consideravam tudo no mundo finito. Por exemplo, existia apenas uma certa quantidade de terra (e a riqueza que ela proporcionava). Para conseguir mais, você tinha que tirá-la de outra pessoa. E esse princípio também se aplicava à honra.

A honra era um conhecimento público da dignidade ou valor social de um indivíduo. Pode ser pensado como o status que as pessoas reivindicaram na comunidade e o reconhecimento que os outros fizeram dessa reivindicação. Definia as maneiras pelas quais se poderia interagir com aqueles que estavam acima, no mesmo nível ou abaixo de sua posição social assumida.

As pessoas obtinham honra de 2 maneiras: atribuída ou adquirida. A honra atribuída representava o reconhecimento social que se recebia da família em que se nasceu. No entanto, a honra adquirida podia ser conquistada ou obtida por meio do que podemos chamar de "duelos de honra".

Mas a sociedade antiga considerava a reserva de honra finita ou limitada. A única maneira de obter mais honra era tirá-la de outra pessoa. Portanto, os indivíduos constantemente se desafiavam a alcançar honra adicional ou a proteger aquilo que acreditavam que já tinham.

Esses desafios podiam ser positivos ou negativos. Dar um presente a alguém ou elogiá-lo era um desafio positivo que exigia um presente ou elogio em troca, equilibrando assim a troca. Os presentes sempre tinham que ser devolvidos de alguma forma. O mundo bíblico até considerava os presentes que uma noiva recebia apenas um empréstimo que poderia ser reembolsado.

Um insulto era um exemplo de desafio negativo. Para evitar a perda da honra, a pessoa insultada tinha que responder de alguma forma. O ensinamento do Novo Testamento é ignorar ou aceitar insultos e perseguições, algo difícil de cumprir em um mundo que exigia que as pessoas sempre defendessem sua honra. Muitas vezes, a honra determinava quem poderia ser um cônjuge em potencial. Outras vezes, a honra determinava onde alguém podia morar, com quem podia fazer negócios, que função religiosa podia cumprir ou de quais eventos sociais podia participar. Se alguém não vingasse nem mesmo o menor dos desprezos ou danos percebidos, perdia sua honra permanentemente e poderia ser prejudicado pelo resto de sua vida. Contudo, não somente o indivíduo perdia sua honra, mas também a família, o que o levava a proteger ainda mais sua honra.

Como já observado, as mulheres não precisavam se preocupar com a honra, exceto em uma área: pureza sexual. Estavam mais preocupadas com a desonra; isto é, deviam sempre ter uma sensibilidade para a honra dos parentes e familiares do sexo masculino. Sempre deviam protegê-los, evitando qualquer coisa que desonrasse a família. Um homem poderia recuperar a honra, mas uma mulher que perdesse sua honra sexual nunca poderia recuperá-la.

Em seu desejo de ganhar ou proteger sua honra, os homens tinham que estar sempre alertas em público. (A honra nunca poderia ser conquistada em particular.) Eles tinham que estar cientes de quase qualquer palavra, gesto ou ação que os outros pudessem interpretar como prejudicial sua honra. Se eles se sentissem desafiados, tinham que responder em um nível igual ou (de preferência) em um nível mais alto. Caso contrário, acreditavam que perderiam sua honra.

Entretanto, apenas a honra de alguém de igual status social podia ser desafiado. Portanto, ele não podia ter sucesso em um duelo de honra com um indivíduo de status social superior e não ganhava nada enfrentando alguém de status inferior.

Os fariseus constantemente desafiavam Jesus, tentando tirar a Sua honra. O que a princípio parecia ser apenas uma questão teológica de sua parte era, ao mesmo tempo, uma tentativa direta de reduzir o Seu status público e a Sua honra. Eles estavam tentando desacreditá-Lo e, assim, desonrá-Lo aos olhos do povo (por exemplo, ver Mt 12). Para eles, desafiá-Lo significava considerá-Lo como seu igual social (apesar das referências a Ele como filho de um carpinteiro [Mc 6:3], um status socioeconômico inferior ao de um líder religioso). Contudo, Jesus virou o jogo contra eles todas as vezes. Em vez disso, da Sua perspectiva, eles perderam sua honra, o que os deixava frustrados e cada vez mais desesperados, dando-lhes mais um motivo para planejar a Sua morte.

Malina e Rohrbaugh, Social-Science Commentary on the Synoptic Gospels.